
A estratégia de venda de vinhos finos está baseada no binômio produto x marca, onde, salvo francesas exceções, a qualidade do produto está a lado a lado à força da marca.
Conversando ontem com Affonso elaborei esta idéia. Se o produto tivesse realmente que carregar sozinho a responsabilidade pela marca, a Coca-cola estaria em maus lençóis.
É muito difícil convencer os vinicultores que uma coisa é o vinho, outra coisa é vender o vinho. São elementos complementares porém de natureza diferente.
No Brasil apenas a Miolo, e talvez a Salton, começaram a acordar lentamente para a importância da construção da marca. A ordem dos fatores ainda está invertida na maioria dos casos, o produto continua carregando a imagem de marca e não o contrário.
Por que a marca é importante?
Ela é importante para o aumento do mercado de vinhos finos. Quando dois ou três grandes vinicultores conseguirem lançar um vinho fino single brand, com objetivo de alcançar grande volume, do gosto do consumidor (isso mesmo senhor, mais para adocicado), e fizerem uma campanha a lá Skin, "experimenta", eles talvez estarão prestando o melhor serviço feito ao vinho brasileiro. Investir no aumento da base da pirâmide consumidora, isso mesmo, em um vinho fino para classe C, é a chave para aumentar o mercado. Ao invés de disputar o bolo, que atualmente ainda é pequeno, porque não aumentamos o bolo?
Se mais consumidores se aventurarem a provar um vinho fino pela primeira vez, eles poderão andar lateralmente provando outros vinhos. Assim a Pepsi não está errada ao usar a estratégia, "pode ser Pepsi?".
As ações de marca que participo estão sempre baseadas no produto. O produto é grande estrela quando na verdade o consumidor é quem deveria brilhar. "Who cares" do que é feito este produto, exceto uma micro-elite que fez curso de vinhos?
Quando o vinho deixar de ser uma bebida e passar a ser um sonho, uma esperança, um enlevo espiritual, um elixir da saúde, uma experiência Starbucks, ele poderá deixar de tomar tanto "Olé" de bebidas alcoólicas que já entenderam a lição da Coca-Cola.
Vender qualquer coisa dentro do Brasil é difícil. Quando a ordem dos fatores é invertida, passa ser uma utopia. Querer que o consumidor compre ao invés de vender ao consumidor é um luxo. Até onde eu sei o Brasil não produz vinhos Grand Cru.