sábado, 7 de maio de 2011

O problema do vinicultor ao ignorar a Coca-Cola


A estratégia de venda de vinhos finos está baseada no binômio produto x marca, onde, salvo francesas exceções, a qualidade do produto está a lado a lado à força da marca.
Conversando ontem com Affonso elaborei esta idéia. Se o produto tivesse realmente que carregar sozinho a responsabilidade pela marca, a Coca-cola estaria em maus lençóis.

É muito difícil convencer os vinicultores que uma coisa é o vinho, outra coisa é vender o vinho. São elementos complementares porém de natureza diferente.
No Brasil apenas a Miolo, e talvez a Salton, começaram a acordar lentamente para a importância da construção da marca. A ordem dos fatores ainda está invertida na maioria dos casos, o produto continua carregando a imagem de marca e não o contrário.
Por que a marca é importante?

Ela é importante para o aumento do mercado de vinhos finos. Quando dois ou três grandes vinicultores conseguirem lançar um vinho fino single brand, com objetivo de alcançar grande volume, do gosto do consumidor (isso mesmo senhor, mais para adocicado), e fizerem uma campanha a lá Skin, "experimenta", eles talvez estarão prestando o melhor serviço feito ao vinho brasileiro. Investir no aumento da base da pirâmide consumidora, isso mesmo, em um vinho fino para classe C, é a chave para aumentar o mercado. Ao invés de disputar o bolo, que atualmente ainda é pequeno, porque não aumentamos o bolo?

Se mais consumidores se aventurarem a provar um vinho fino pela primeira vez, eles poderão andar lateralmente provando outros vinhos. Assim a Pepsi não está errada ao usar a estratégia, "pode ser Pepsi?".

As ações de marca que participo estão sempre baseadas no produto. O produto é grande estrela quando na verdade o consumidor é quem deveria brilhar. "Who cares" do que é feito este produto, exceto uma micro-elite que fez curso de vinhos?

Quando o vinho deixar de ser uma bebida e passar a ser um sonho, uma esperança, um enlevo espiritual, um elixir da saúde, uma experiência Starbucks, ele poderá deixar de tomar tanto "Olé" de bebidas alcoólicas que já entenderam a lição da Coca-Cola.

Vender qualquer coisa dentro do Brasil é difícil. Quando a ordem dos fatores é invertida, passa ser uma utopia. Querer que o consumidor compre ao invés de vender ao consumidor é um luxo. Até onde eu sei o Brasil não produz vinhos Grand Cru.

4 comentários:

Anônimo disse...

Comparar o consumidor de vinho com o povão consumidor de cerveja é um sacrilégio!

Anônimo disse...

Obrigada por esclarecer que o povo que consome cerveja é "povão" e NÃO é considerado pela indústria de vinho tinto fino.

Augusto Bellini disse...

A Coca-Cola é um grande produto. E sabe muito bem (como ninguém) a explorar e acrescentar valor à sua marca. É só olhar para a história e entender como esse produto entrou em nossas vidas. Hoje é um hábito cultural de consumo. Está muito além do produto. Coca-Cola transcendeu a categoria de produto. É um mito. Bebemos o mito. Controlar ou padronizar um vinho é algo desumano. Esta é uma particularidade que pertence a Natureza ( a ecologia - no sentido purista) estando justamente aí sua magia e encantamento. Coca-cola não se preocupa com isso. Seu core business está na logística. Fazendo parte dessa lógica à marca. Há décadas que trafegam no mesmo posicionamento. Mudam alguns "enfeites" e continuam repetindo a mesma fórmula desde sempre (1885). Uma fórmula que está guardada a "sete chaves" - na percepção dos consumidores. Cabe ao trade "vinhos" e, particularmente aos "vinhos brasileiros" trabalhar melhor a COMUNICAÇÃO e o RELACIONAMENTO. Eu, particularmente, fariam um gigantesco treinamento nos pontos de dose. Os garçons são uma "praga" para o setor. Não conhecem o serviço do vinho. E, paradoxalmente, são os maiores influenciadores do consumo. Ou do não consumo. E Viva Lado Coca-Cola da Vida!

Cacá Azevedo disse...

Augusto muito obrigada pelo seu comentário, estou de acordo contigo que falta capacitação nos profissionais de ponta. Eles precisam realmente serem estimulados financeiramente e via reconhecimento para recomendar o vinho brasileiro.
Acredito que a IBRAVIN vem aos poucos galgando estes passos ao reunir os vinicultores. Creio que juntos eles reunidos e ousando poderão criar a marca do vinho fino no Brasil de maneira forte.
Aguardo novos comentários. Obrigada!